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8 de out. de 2013
A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL
Desde os tempos mais remotos o
homem vê como inimigo quem é diferente, o ‘etnos’; o outro que virou escravo,
servo, excluído, morto, porque era mais fraco, deficiente físico, de outra cor,
de outro sexo etc. Lições foram aprendidas depois de tantos séculos de
perseguição, depois de tantas mulheres queimadas como bruxas nas fogueiras da
Inquisição ou de inimigos do Estado com suas cabeças cortadas. O outro é o
inimigo. O preconceito mais comum relaciona-se com a cor da pele, temas
religiosos, tema sexual e de classe social. Se, hipoteticamente, todos os
homens fossem iguais, outro preconceito seria certamente inventado: quem seria
o próximo alvo? O gordo? O canhoto? O magro ou o feio?
O ódio individual e a vingança
privada foram sendo substituídos pelo estado kantiano, contratualista e racional, que tomou para si o poder
absoluto de polícia. As sociedades mais evoluídas trataram de punir seus
criminosos, com mais ou menos rigor. Países violentos no passado, como Japão e
Alemanha, convivem hoje com baixa criminalidade. Porém, países com tranquila
convivência social, como a Grã-Bretanha e Itália, convivem com um absurdo
fantasma: a violência de torcedores de futebol. Curiosamente, foi um jogo entre
dois times dos países respectivos, Liverpool e Juventus, que mudou o panorama
do futebol europeu. Era 29 de maio de 1985, na final da Copa dos campeões da
Uefa, em Bruxelas. Uma briga iniciada pelos hooligans resultou em 38 mortos e
um número enorme de feridos. Foi a tragédia de Heysel. Por conta
disso, os times ingleses foram proibidos por cinco anos de disputar compeonatos
europeus. Torcedores foram processados, fichados, vigiados. As brigas em
estádio minguaram; os alambrados foram sumindo. O estado kantiano agiu e a
violência diminuiu. Mas não se enganem, a presença do ‘English Team’ é sempre
preocupante em Copas do Mundo (na Alemanha, em 2006, foi um festival de brigas
e confusão). Na África do Sul eles certamente vão aprontar; espero que nem se
classifiquem para a Copa no Brasil. No filme “Invictus”, de Clint Eastwood, uma
piada contada disse que o futebol é um esporte para cavalheiros jogado por
hooligans; já o rugby é um esporte de hooligans jogado por cavalheiros. É a
pura verdade. Brigas acontecem mundo afora, na Argentina, Chile, México,
Colômbia, em países africanos e europeus. Na Turquia a faca dita as regras.
No Brasil,
palco da Copa do Mundo de 2014, vergonhosamente a violência assola o futebol. Brigas
dentro e fora do campo. As cenas do Estádio Couto Pereira invadido e destroçado
pela própria torcida caseira na última rodada do brasileiro de 2009 são
lastimáveis em todos os aspectos. A pena máxima aplicada ao Coritiba foi até
pequena. A torcida fascista avalanche do Grêmio coleciona confusões. Nome aos
bois: Independente, Raça Rubro Negra, Gaviões da Fiel, Torcida Jovem, Mancha
Verde ...
Os inimigos podem
ser eles, os ‘bambis’, contra nós os ‘porcos’; ou vice versa. Eles os ‘bacalhaus’,
nós os ‘urubus’; eles, as ‘raposas’, nós os ‘galos’. As torcidas organizadas
são espécies de gangues pós-modernas, sem moral, ideologia, razão de ser, o que
Laranja Mecânica de Kubrick havia previsto. Não importa, se tua camisa é diferente, viras inimigo geral. Serás
a próxima vítima! As últimas brigas entre torcidas organizadas de Palmeiras e São
Paulo ou do Corintians contra vascaínos não serão, infelizmente, as derradeiras. Elas voltarão sim. Outros morrerão.
As tentativas
heróicas do Ministério Público de São Paulo de proibir as torcidas organizadas
sempre encontram adversários. Interesses econômicos ou políticos movem as
organizadas. Diretores abastacem simpatizantes de ingressos e material
esportivo. Políticos colhem seus votos. O sentimento de impunidade reina. O
esporte fica em segundo plano. A insanidade chegou ao ponto de se correr risco
de morte ao vestir a camisa de seu time. Ou essas ‘torcidas’ são proibidas de
vez ou então os jogos terão de ser de uma torcida só. O futebol, cantado em
verso e prosa, musicado pelo tricolor Chico Buarque, pelo vascaíno Paulinho da
Viola e pelo rubro-negro Jorge Benjor está sob risco de emudecer.
Antes que eu
esqueça: em Heysel, a Juventus ganhou de 1 a 0 e foi campeã. Gol do mago Michel
Platini. Não é isso que importa para o futebol?
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