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14 de jul. de 2010

INVICTUS: MANDELA E A CONQUISTA DO CORAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL

A África do Sul que se exibiu para o mundo na Copa do Mundo de futebol é um país bem diferente daquele que viveu sob o Apartheid como política de estado, após 1948. A ONU (desde 1962) e a maioria dos países ocidentais considerou o Apartheid como um crime contra a humanidade, afinal, como diz o jurista americano Ronald Dworkin, aquilo era um regime sob o manto de um direito do mal. A revogação das leis do Apartheid só ocorreu em 1990 com o Presidente Frederik de Klerk.
Em 10 de maio de 1994, após eleição em sufrágio universal, Nelson Mandela tomou posse como o primeiro presidente negro sul africano. Em 1995, uma outra Copa do Mundo foi designada para acontecer na África do Sul: o campeonato mundial de Rugby. A seleção nacional sul africana, os Springboks, sempre esteve entre as melhores do mundo, mas estava banida de competições internacionais por conta do boicote internacional ao Apartheid. Sua camisa verde e amarela impunha respeito a outros temidos times como os All Blacks neozelandeses, os Wallabies australianos e os Pumas argentinos, mas era detestada pelos negros sul africanos.
A Copa de Rugby na África do Sul seria um cartão postal dos novos tempos do país. Mandela percebeu que aquela seria uma oportunidade rara de unir todas as raças, até então desconfiadas com a reconstrução política e, principalmente os descendentes de europeus, com o medo de vinganças diante da secular exclusão social. Mas havia um problema adicional: os negros não gostavam de Rugby, esporte favorito da minoria branca; os negros gostavam de futebol. Mandela primeiro teve que convencer os negros de que os Springboks representavam toda a África do Sul e todas as raças. Isso não foi fácil, pois as mágoas acumuladas durante o Apartheid faziam com que o rugby fosse associado diretamente à minoria branca e o time era tão detestado quanto a antiga bandeira (parecida com a da Holanda), a Polícia de choque e o hino racista Die Stem. Para piorar havia apenas um jogador negro no time, Chester Williams.
O livro “Conquistando o inimigo: Nelson Mandela e o jogo que conquistou a África do Sul”, de John Carlin (playing the enemy – Sextante) retrata esse episódio histórico com maestria. O capitão do time, François Pienaar, foi chamado para uma conversa reservada com Mandela, que o convenceu a acreditou na ideia de “usar o esporte para construir uma nação”.
O esporte está repleto de exemplos de como pode ajudar a superar dificuldades e unir pessoas em torno de um objetivo (ou mesmo ser usado com fins eleitoreiros): a Alemanha jogou e venceu a Copa do Mundo da Itália em 1990 e acelerou a unificação política após a derrocada comunista; a vitória na Copa de 54, no milagre de Berna retomou a esperança do povo alemão após a derrota na WWII; a China se exibiu ao mundo como potência nas Olimpíadas de 2008 e o Japão em 1960; mas nada se compara ao feito dos Boks em 1995. Mandela acreditou neles para catalisar uma nova forma de conviver em um país dividido e desconfiado.
Essa transformação da história sul africana levou Clint Eastwood a filmar “Invictus”, com Morgan Freeman como Mandela e Matt Damon como François Pienaar, lançado mundialmente em janeiro de 2010. (veja o clip em www.omelete.com.br/popup/popup_galeria_videos_ordenada.aspx?id=100023806&img=1)
Em resumo, os Springboks venceram a Copa de 1995 (e venceram de novo em 2007, na França) e um país nasceu, de fato, dali, em diante. O medo estava superado; outros e novos seriam os desafios sul africanos. Atualmente, o Hino nacional com três idiomas (inglês, afrikaner e xhosa) e a bandeira multicolorida representam bem o que o Arcebispo Desmond Tutu chamou com extrema felicidade de “Nação do Arco Íris”.

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