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13 de ago. de 2010

A profecia de Malthus

Thomas Malthus afirmou em 1798 que a sociedade estava condenada pela “tendência de a população crescer em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética”; o medo de Malthus era de que à medida que o crescimento da população mundial superasse a produção de alimentos, os padrões de vida voltassem aos níveis de subsistência. Sua famosa teoria entrou para a história. Porém, o alarmismo inicial transformou-se em descrédito até sua profecia cair no esquecimento.

O conforto gerado pelos avanços tecnológicos a partir do século XX deitou as populações dos países centrais em berço esplêndido. Mas aí, eis o Circuit breaker e seus mistérios a levantar sombras sobre o futuro próximo. Países insuspeitos como Grécia, Islândia e mesmo, em menor grau, Estados Unidos, caíram subitamente em prantos e foram acometidos pelo pavor de quebra geral.

Também foi no século passado que os economistas desacreditaram Malthus ao defender a tese de que ele ignorou os avanços tecnológicos, que permitiram que a produção de alimentos pudesse também crescer geometricamente, por conta dos avanços nas técnicas de produção, do aumento da quantidade de solo cultivado, com a melhoria do transporte mundial, o desenvolvimento de sementes geneticamente alteradas, melhor qualidade dos nutrientes do solo, melhoria da qualidade dos fertilizantes químicos, técnicas de irrigação e mecanização agrícola, de modo que a produção de alimentos poderia permanecer muito à frente da curva de crescimento populacional.

Mas não é que o fantasma de Malthus ressurge? E volta na medida em que a população mundial, obviamente, continua aumentando; e isso, ainda que em índice de natalidade menor, mas também pelo aumento de sua longevidade; países como o Brasil há três décadas tinham expectativa de vida de quase vinte anos menor para os homens. Ou seja, vive-se mais e come-se mais. Ademais, a competição global pela redução de subsídios agrícolas (batalha liderada pelo Brasil principalmente contra França e Estados Unidos) resultou em redução na produção agrícola de países centrais, ao passo em que os ditos emergentes passaram a exportar mais, na medida em que as barreiras fiscais permitem. A redução da produção agrícola cortou postos produtivos nos países centrais e gerou uma nova legião de reivindicações protecionistas a infernizar as rodadas do GATT.

Outro fator: as mudanças climáticas do planeta não só geraram enormes perdas de safras (inundações, secas e geadas imprevistas) como serviram para aumentar a consciência ecológica, levando a um controle maior das áreas de plantio, impedindo o avanço descontrolado como havia até o final do século passado, quando, por exemplo, grandes áreas da Amazônia e do Cerrado foram dizimadas pelo avanço do agro negócio.

Alguém disse que se a China é a fábrica do mundo, a Índia é o setor contábil e o Brasil é a fazenda do mundo. De fato o exuberante agro negócio brasileiro assombra o mundo, mas a custo de crítica cada vez maior.

Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute, da Universidade de Columbia, afirma que “o espectro de Malthus não foi exorcizado — ao contrário, longe disso. O aumento de know-how não só permitiu obter mais saídas para as mesmas entradas, mas também melhorou nossa capacidade de vasculhar a Terra em busca de mais entradas. Essa primeira revolução industrial começou com a utilização de combustíveis fósseis, particularmente o carvão, através das máquinas a vapor de Watt. A humanidade estava presa a depósitos geológicos de energia solar primordial, armazenada na forma de carvão, petróleo e gás para atender suas necessidades modernas. Aprendemos a escavar minerais em locais mais profundos, pescar com redes maiores, mudar o curso de rios para formar canais e represas, nos apoderar de mais habitats de outras espécies e derrubar florestas com ferramentas mais poderosas para limpar grandes áreas. Inúmeras vezes, não conseguimos mais por menos, mas ao contrário sempre, mais por mais, convertendo ricas histórias de capital natural em altos fluxos de consumo atual. Boa parte do que chamamos de “lucro” ─ no sentido lato do valor agregado à atividade econômica ─ é na verdade uma redução ou uma perda do capital natural” (apud in www.earth.columbia.edu).

Eric Hobsbawm disse que as perspectivas do novo século não são boas quanto à política internacional e aos assuntos relacionados ao ambiente. Ele diz que hoje já não se pode dizer tão seguramente, como nos séculos 19 e 20, que estamos num caminho de progresso, pois temas como crise de energia e falta de água são reais.

Sachs observa ainda que se “continuarmos a consumir uma quantidade desmedida de petróleo e tivermos falta de alimentos, se reduzirmos as reservas fósseis de água do subsolo e destruirmos as florestas restantes e devastarmos os oceanos e enchermos a atmosfera com gases do efeito estufa, que pode provocar descontrole no clima da Terra com elevação do nível dos oceanos, poderemos estar confirmando a maldição de Malthus, embora tudo isso possa ser evitado”.

Precisamos de novas políticas públicas para o controle de natalidade, um novo sanitarismo, novo perfil de educação quanto ao consumo, uma bioética quanto aos alimentos modificados geneticamente, tudo no sentido de gerar uma estratégia de crescimento sustentável e responsável.

Energia limpa, segura e reciclável. Alimentos limpos. Consumidor consciente. Parece ser essa a nova ordem mundial.


malthus

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