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8 de dez. de 2011

A Música na era da informação

Um amigo me ligou dizendo que tinha perdido todos os dados do disco rígido de seu computador. E lá dentro, além de textos e arquivos gerais, estavam cerca de dez mil músicas e vídeos armazenados carinhosamente ao longo de tanto tempo. Solidarizei-me com ele e aliviado lembrei que pelo menos os meus discos de vinil, cds, bds e dvds estão livres de vírus. 

Nos atuais tempos de Internet a quantidade de informação que cada um obtém é proporcional à sua curiosidade. A criação do formato digital, depois com a compressão de dados levou a música a adquirir novas fronteiras usando a internet. Vivemos na era tecnológica mais fascinante da história humana; qualquer coisa convertida digitalmente pode sair de um celular ou computador do interior do Turcomenistão e chegar em segundos ao Cazaquistão. Com isso podemos conhecer artistas fora do mainstream, produzindo jazz, pop, rock ou música erudita em todos os cantos do planeta. World music virou um conceito sem precisão! Hoje aponte seu mouse para o ícone da Apple iTunes store ou Playstation store e em alguns minutos qualquer música estará em seu disco rígido. E isso é de fato sensacional, pois colocou um mundo inteiro de possibilidades ao alcance de nossos dedos. Mas se usar pirataria junto podem vir os intrusos vírus. Por isso eu, meio dinossauro, ainda prefiro comprar discos em vez de ter simplesmente um disco rígido cheio deles, embora seja cliente cada vez mais assíduo do iTunes. 

Nos anos 80 se em alguma loja local não tivesse aquele desejado disco (de vinil) com as últimas músicas de seu artista favorito, só através de encomenda pelo catálogo da gravadora ou incomodando algum amigo que estivesse viajando para outra cidade, que teria de trazê-lo cuidadosamente na mão, sob o risco permanente de não quebrar. E se você mesmo fosse o viajante traria para si e para os amigos – eu mesmo fiz muito isso; em 86 eu viajei com meu Pai por várias cidades e em Aracaju encontrei em uma loja o segundo álbum dos Smiths: levei-o na mão pelo resto da viagem inteira, junto com o single “she sells sanctuary do Cult. Tragicamente o disco do Cult quebrou, mas até hoje eles dois e mais os muitos outros comprados naquela viagem ainda estão guardados em minha prateleira. Em 1989 eu aderi ao compact disc, ao comprar meu primeiro cd – The First Circle, de Pat Metheny – na saudosa Mesbla da Rua Grande. Como vou esquecer o lugar onde comprei meu primeiro disco digital? Esse disco ainda está impecavelmente guardado, apesar do tempo. 

Um HD quebrado é apenas um inválido pedaço de metal. Um disco, mesmo rasgado ainda conserva certo valor. O que me faz gostar dos discos, além da música, claro, é a memória visual, a arte, o contato entre pele, plástico e papel, o cheiro do novo esvaindo-se com as folhas do calendário. Um disco me permite lembrar o dia e o local em que foi comprado; me permite voltar no tempo como se fosse uma fotografia antiga. Meses atrás eu estive nas grandes galerias do rock em Sampa e fiquei procurando a loja em que eu tinha comprado o primeiro álbum do Lloyd Cole – e melancolicamente descobri que ela já não existia mais, virou uma casa de sucos, virou suco. Como tantas outras, mundo afora. É parte da memória do tempo.

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