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3 de out. de 2012

15 minutos de fama

Andy Warhol, o célebre artista pop americano, certa vez disse que “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”. Nem todos, claro, é bem verdade. Mas na atual sociedade midiática e globalizada, regida pela imagem e pela intensa troca de informações, muitos conseguem as luzes dos holofotes. Aparecer, ser visto e cultuado. Identificar essa necessidade de aparecer a todo custo, de ser famoso e de lucrar com isso parece ser uma face da sociedade hedonista que cresce a cada dia. Os reality shows como o BBB instigam a uma reflexão sobre o tema. 

A ideia do Big Brother nasceu da obra ‘1984’, que George Orwell escreveu em 1948 (daí a inversão dos números finais para um futuro e distante 1984 – para nós já um passado rígido). O livro é, na verdade, uma crítica ao Stalinismo, com sua fachada rígida e intolerante, cujos crimes ainda não haviam sido denunciados abertamente, mas que tem como panorama os riscos de uma sociedade exposta à vigilância constante do Estado. A leitura de 1984 impressiona pela ambientação sombria de um Estado que tudo controla (supostamente a própria Inglaterra, já que a estória se passa em uma Londres fictícia.), mediante vigilância eletrônica em cada recinto, casa, trabalho ou rua. É um livro cujo enredo está cada vez mais atual, ante a capacidade tecnológica que permite hoje a vigilância ininterrupta por teletelas e micro-câmeras, escutas telefônicas, satélites, etc. Nunca um dos pilares do Totalitarismo foi tão bem explorado quanto o poder de vigilância do Estado, ou em seu nome. O Estado orwelliano é tão monstruoso e pretensioso na tentativa de tudo controlar, que chega até a criar o “Ministério do Amor” (!!), encarregado de impor limites à ordem e determinar a vida afetiva de seus habitantes. Havia também o “Ministério da Verdade”, a “Polícia do Pensamento” e o Ministério da Paz (que tratava da guerra!), além do Ministério da Fartura. O resultado é um livro perturbador, repleto de citações sombrias de vidas vegetativas, sem sentido e sem rumo, tudo sob o controle do “Big Brother”. O Grande Irmão Estado, que criou uma “novilíngua” para seus habitantes, conseguia mudar até mesmo a história passada com o marketing político. Da mesma forma, usava maquiavelicamente virtuais vitórias em guerras distantes para unir forçosamente os habitantes contra um inimigo externo, criando um sentimento de apego nacional contra “eles”, quem quer que fossem. 

A brutalidade com que o “Big Brother” pune os amantes do enredo, Winston e Julia, que ousam apaixonar-se sem a permissão do “Ministério do Amor” é aterrorizante, criando um clima claustrofóbico, insuportável, transmitindo a sensação da repressão e da frieza do regime. Já em “A Revolução dos Bichos”, ORWELL cria uma suposta fábula em que os animais se revoltam e tomam de assalto a fazenda onde vivem, expulsando o antigo dono, Mr. Jones, passando a comandar o lugar. Os porcos se apressam em assumir o comando e logo um deles, de nome Garganta, será o mais poderoso. Usando artifícios como confundir o passado com o presente, impedindo a reflexão dos animais, Garganta impõe-lhes as maiores privações e repressão, lembrando sempre que por pior que seja o presente, pior seria se Mr. Jones voltasse, criando um sentimento coletivo de que então o novo é melhor do que o velho. Mas a partir da dominação básica os porcos impõem um regime de terror pior do que o antigo. ORWELL fez uma dura crítica aos rumos da Revolução Russa de 1917, insurgindo-se contra a ditadura instalada, que em nome da imposição do novo regime, violou frontalmente direitos básicos do povo, impondo-lhe terríveis sacrifícios. Tema semelhante é abordado em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que imagina um Estado pós-fordista, que controla até a natalidade e a continuidade da vida, em uma sociedade asséptica e rigidamente vigiada. 

Ao trabalhar com os conceitos de domínio absoluto do povo pela imposição ideológica, repressão política e controle dos atos e informação, Orwell e Huxley deixaram obras fundamentais, repletas de elementos típicos do Totalitarismo, em uma atmosfera sombria e angustiante, propositalmente idealizada. Um libelo contra a alienação e dominação ideológica. P.S. Na final da Taça Rio de futebol de 2012 bastou uma bela gandula chamada Fernanda repor com extrema rapidez uma bola que originou um gol do Botafogo contra o Vasco para o fato ser mais do que suficiente para ela vir a ser convidada para dar entrevistas mídia afora e virar uma celebridade imediata em todo o país. Na semana seguinte ela já estava esquecida; da mesma forma que a grande maioria dos chamados BBB’s ou dos que viram fenômeno de acesso no You Tube ou em redes sociais. Tudo em apenas 15 minutos. http://colunas.imirante.com/platb/jamesmagno/2012/05/17/15-minutos-de-fama/andy_warhol/

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