Quando estive em Montevideo pela
primeira vez, em 2006, confesso que fiquei muito impressionado com a cidade. Primeiro,
a sensação de que um pequeno portal no tempo se abriu e de repente lá estava eu
mergulhado em uma página de fim de inverno, no frio de 6ºc entrando pelos poros
e chegando a recantos da alma que eu nem imaginava existir. Um dia meio cinza,
meio azul celeste, como a cor da bandeira uruguaia.
Em ruas quase desertas o vento batia e
voltava mais frio, trazendo uma adorável melancolia que me fez descobrir uma
gentileza no povo uruguaio que há muito não via, pensava quase ter
desaparecido. E também uma dignidade e elegância de quem foi bem criado e
tratado pelo Estado providência de décadas atrás.
Lá me falaram da baixa violência urbana,
dos elevados índices sociais e da necessidade de procurar no futuro um
crescimento econômico que tire o país da paralisia atual. A cidade mais antiga
do que moderna denuncia isso.
Procurei Eduardo Galeano em alguma
mesinha do Mercado do Porto, mas encontrei em toda a cidade o lirismo do grande
mestre, o que me pensar que apenas quem vive imerso em tamanha poesia tem a
sensibilidade de dissecar as veias abertas latino americanas.
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Escrevi
como no original castelhano; republicado em homenagem a Eduardo Galeano, falecido em 13 de abril de 2015.
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